sábado

Contos de fadas

De finais felizes. A grande indefinição do que vem depois da aventura. E se a vida não for uma aventura, como nos contos de fadas? E se tiver que ser apenas o final? Deixemos de lhe chamar final... passa a ser o quê? O meio? Vida de meios felizes. Não soa nada bem.
E se dividirmos a vida em vidas pequenas? Na medida em que a nossa vida não seja só uma, sejam várias vidas que se entrelaçam com a nossa. E assim, já podemos falar de aventuras? Cada entrelaçada uma aventura. O que será um final feliz então?...
Como é que se prolonga uma aventura? Como é que se adia um final, quando o meio é tão feliz? Como é que não se deixam fugir as borboletas na barriga, a qualquer coisa entalada na garganta, o arrepio espinha acima, a sensação de queda livre, a censura da maneira como nos apresentamos, do que dizemos, de como estamos, do que fazemos?
Era fechar os olhos e parar o tempo e parar o sangue de correr pelas veias e artérias, congelado, tão frio. Coisa assim não pode ser boa. Fria, gelada. Vazia de vida. Já não seria vida, então. Já não seria aventura também. Na tentativa de prolongar a aventura, acabaríamos com ela de uma vez, ainda antes do tempo dela acabar se não tivéssemos tentado intervir no curso natural das coisas.
Sim, felizes ou não, há sempre finais. E de uma maneira ou de outra, mais ou menos dolorosa, acabam por ser para o nosso bem.

Algumas vezes, o final afinal ainda vem relativamente longe... e podemos descansar e deleitar-nos mais um pouco no quentinho do meio da aventura.