sábado

Nevoeiro e perlimpimpim

Há quem na cabeça tenha não mais do que farinha espalhada por um sopro de crianças traquinas, calda de açúcar e pintarolas de muitas cores. Serpentinas e fitas de Carnaval, purpurina, tules e varinhas que tudo fazem acontecer. Estrelas e coisas brilhantes, torres de castelos com janelas pequenas no alto, dragões e espadas e fadas e luz. E fogo. E dentes afiados e monstros gelatinosos. Foguetões e trapézios e narizes vermelhos. Orelhas bicudas e bochechas rosadas. Asas e penas e caudas compridas. Hoje sou assim. Amanhã não sei que serei. Ontem já passou. Fui à Lua, salvei o Mundo. Hoje corro em câmara lenta à frente dos meus olhos na pele de outro ser pequenino. Com os joelhos esfolados, as mãos cheias de terra e expressão de quem sabe que não engana ninguém, mas e então? Hoje, é pecado sentir-me ainda assim? Porque parece a todo o momento que está alguém a olhar para (por) mim pronto a censurar-me (amparar-me)? Grilinhos que falam de mãos em concha à volta da boca para dentro dos nossos ouvidos, irritados. É quando se cai de cu no chão e o sorriso malandro vira pranto ao vento e tudo perde nitidez. A fantasia enrola-se no ar em fumos de tons azuis, roxos, rosa e prateados, pelo caminho adiante par a par com o real. Vejo os meus pés um à frente do outro, mas não vejo o caminho. Brumas e escuro e minúsculas gotas de água suspensas em redor dos corpos. E frio. Não somos capazes de perceber a fronteira, ou sequer de ultrapassá-la. Não podemos alhear-nos para sempre, nem voltar para trás, a estrada que conhecemos já não existe. Devia haver uma solução mais óbvia para os dias de nevoeiro.

2 comentários:

Cat disse...

Gosto de ti

tenho saudades de como me percebes*

Cat disse...

Gosto de ti

tenho saudades de como entendes*