sábado

O frio ainda vem longe


Há folhas no chão, há correria de pessoas, há casacos assim-assim. A romãzeira já tem fruto e já comemos batatas doces. Há cogumelos a crescer no jardim e quem come as uvas são os insectos lá fora. As laranjas ainda estão verdes, assim como os ouriços das castanhas. Já tirámos as mantas do armário e trocámos o cobertor leve pelo edredão. Mas ainda não há terra molhada, nem névoa matinal que se veja, ainda não cheira a lenha nem se ouve o crepitar do lume na lareira. À noite fazem 17 ºC e de dia, ao sol, tenho vontade de despir a camisola. O frio ainda vem longe.
De qualquer forma, as folhas que caem uma a uma ou mais de uma vez hão-de amontoar-se, as pessoas hão-de correr cada vez mais depressa para o conforto do interior de cada casa, e os casacos dia a dia hão-de pesar cada vez mais nos ombros de cada um. Podemos adivinhar o cheiro das laranjas melhor a cada dia que elas ganham mais um pouco de cor. Para quem quiser há já castanhas à venda no mercado, hão-de vir a pouco e pouco acompanhar as batatas doces na cozinha lá em baixo. Com a luz do fogo chega também a água a ferver da botija para aquecer quem não consegue dormir de pés mais e mais gelados. Cada sol que nasce traz manhãs menos quentes e cada lua que desce leva mais do entusiasmo do sol. As coisas verdes ficam cor-de-laranja e vermelhas e amarelas e castanhas e pretas. E morrem. Outras nascem.
Assim, devagarinho, quase sem darmos conta. Eis que ele vem. O frio ainda vem longe. Mas vem. Preparemo-nos, então.

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