quinta-feira

Ciclos de vida e ciclos da vida


O cogumelo emerge da densa rede de bolor escondida nas folhas castanhas e ramos caídos da árvore. A árvore emerge da semente vinda no bico da ave, caída na terra escura solta e molhada. A ave emerge da casca calcária escondida entre a rede do ninho no cimo de outra árvore. A terra. De onde vem a terra. A terra cheia de vida.
As coisas que existem tocam-se e as suas vidas entrelaçam-se e os laços moldam os caminhos. E tudo acontece em ciclos, os círculos intersectam-se, as linhas saem da geometria e desenham à mão livre o que mais sentirem no instante.
O feto cresce criança, a criança cresce menino e menina. Menino e menina ficam maduros e como homem e mulher se amam, dão frutos que os vêem senescer até voltarem à terra.
Levantamo-nos devagar, vamos abrindo os braços ao céu, subimos quanto conseguimos. Quando em bicos dos pés, corpo elevado e mãos e rosto a tocar o ar que nos envolve. Daí fechamos os olhos, fechamos o sorriso, baixamos a cabeça. Recolhemos os membros e enrolamo-nos sobre nós próprios. E choramos. E somos confortados. E de novo nos preparamos para mais um estado de graça. Chega sem aviso, parte sem avisar. Uma e outra vez.
A imprevisibilidade é o abismo. Quanto tempo até cair, não sei. A folha que espera a queda no Outono. Terá tido alegria suficiente todo o Verão.

2 comentários:

Anónimo disse...

Se há alguém que consegue, de alguma forma, essa que nem sei eu bem como explicar, tocar em mim e fazer emergir um caldo de sentimentos, daqueles bem gordos .. es tu, com estas tuas nostalgias, paragens amorfas cheias de nevoeiro. Questiono-me por tantas, e tantas vezes, sobre a arquitectura momentânea destes teus sentimentos .. Será que tenho receio de ser uma pedra no teu calçado? Se é receio, se é o que é, sinto-me como uma pedra na qual tu caminhas .. Te amo tanto !*

Anónimo disse...

Já agora .. o desenho é qualquer coisa !! *