sábado

"Águas de Março"

O inverter da ampulheta tem destas coisas. O que para uns "são as águas de Março fechando o Verão", para outros são os dias com mais horas de sol a abrir caminho para fechar o Inverno. A perspectiva dual que sempre impera. A sorte e o azar que o acaso cede ciclicamente num contínuo eterno de lançamentos ao ar de moedas que derrubam a primeira peça de dominó de longas e entrelaçadas filas. O fim e o início, o início e o fim, o entretanto entre os dois, tempos cruzados, trocados, baralhados e sobrepostos. Escritos na linha que estica, estende e dilata, como encolhe e encurta. E às vezes salta. Outras esconde-se e só vemos tracejado, pontos interrompidos por espaços sem preenchimento. E dá voltas e voltas e entra em espirais infinitas. Mas nunca se intercepta a si mesma, jamais volta para trás. A flor que desabrocha e morre sem passar duas vezes a mesma imagem.

Nas águas de Março - Jardim Azul.
Pintura em tela, Sónia Madruga © All rights reserved.


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