sábado

Hoje, sexta-feira, esqueci-me da chave de casa

Hoje, sexta-feira, esqueci-me da chave de casa. E, de volta, enquanto esperava que ela chegasse à minha porta, sentei-me na soleira. As árvores de troncos e ramos entortados em esses serpenteantes desesperados em busca da luz estão carregados de folhas verdes, frescas, translúcidas. Uma abóbada de sombra clara que torna sereno o calor da tarde que em breve termina. Tremem ao sabor da brisa e lembram reflexos brilhantes na superfície de um lago. Deixam cair leves amarelas flores que fazem tapetes no chão e enfeitam os cabelos das meninas que saem da escola. Passam muitos miúdos de mochila às costas, é fim-de-semana, finalmente. Da vedação que limita o pátio saltam luxuriantes folhas de bananeira, roxas buganvílias, heras e farfalhudos arbustos. Chilreiam os pardais de telhado, atravessam a rua em estonteantes voos. Cantam os melros em seus poisos. As andorinhas já escasseiam, é início de Junho. Duas estrangeiras saem do meu prédio. Não as conheço e vão a falar outra língua que nem consigo identificar. Encontro duas moedinhas de um cêntimo no passeio. Finalmente a minha chave chega. E entramos.