sábado

Rosa de jardim

A água que cai e molha o chão e as plantas em Agosto no jardim da Rosa é a mesma que à Rosa humedece a face e escurece o cabelo, apanhado com alguns ganchos que madeixas e franja deixam cair a esconder os olhos. Dos olhos outras águas nascem, diferentes em composição, semelhantes em sentimento e função. Surgem quando o ardente e caloroso fulgor do que aconteceu se retira para dar lugar a um frio, estático vazio. Servem para expulsar fantasmas, para oficializar o luto, para libertar a frustração em pequenas doses, devagar, até que se esgote. Servem entretanto para lavar angústias, remorsos, mágoas, rancores. É por isso que não basta água pura. Tem de ter sal, e soluços, e falta de ar, e respirar ofegante, gemidos e dor. Para afugentar para longe os negros espectros do que não mais pertence ao tempo que passa. Rosa e suas rosas, de sua cor, amarelas, brancas ou vermelhas, mas encharcadas pelo mau tempo que nem em mês quente deixa de estar presente. Rosa pensa: «Pelo menos não terei que as regar hoje». Pega no regador grande, metálico, a tinta verde descascada a descobrir o laranja enferrujado, e volta para dentro. Há que desvalorizar a chuva em Agosto, há sempre calor suficiente para a secar mais depressa.

Sem comentários: