terça-feira

Young blood

Enchemos mochilas com garrafas de cerveja e debaixo do lençol preto do céu estrelado de Agosto subimos para cima das bicicletas. Pedalámos uns atrás dos outros, aos gritos pela noite. Entrámos por terrenos alheios, fomos por dentro de ervas e arbustos. Saltámos muros e cercas de arame farpado, com as bicicletas às costas e as lanternas a apontar o caminho. Sujámos calças e calções, arranhámos as canelas. Pisámos as tábuas do velho e tosco cais de madeira, despimo-nos e mandámo-nos para dentro de água. Aquela sopa mista de lama e ferrugem e óleo dos motores dos barcos. Atirámos água uns aos outros, ecoámos gargalhadas, não havia amanhã. Subimos agarrados a cordas cheias de algas e deitámo-nos a contemplar a abóbada do melhor Verão das nossas vidas. A contar estrelas que caíam, direitinhas aos nossos bolsos, cheias de desejos. A água já não se mexia, o silêncio do açude somente perturbado por corujas e mochos que piavam uma ou outra vez. No ar, a essência de cada um tocava a do outro, saturando a atmosfera com algo que não saberemos enunciar ao certo. Fizemos coro para músicas lamechas que nunca teríamos tido coragem de cantar noutro contexto. Fugimos a sete pés e muitas rodas, pregámos sustos e morremos de medo no breu da floresta, aos tropeções nas raízes elevadas da terra. Explodimos de alegria quando chegámos à estrada iluminada pelos candeeiros de rua. Fizemos parte uns dos outros. E isso permanece.

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